Quando cheguei para trabalhar no seringal, era um moço idealista, da Esquerda, e a Cultura que encontrei entre os seringueiros, falava de monstros mitológicos, Espíritos das Selvas, e outras entidades que eram invisíveis, mas que tinham uma atuação bem destacada no imaginário do povo. Assim ouvi falar sobre o Bate-Bate, um espírito que batia nos igarapés, geralmente a noite, mas que bem podia aparecer de dia, e ao invés de ser um ser material, era apenas um ruido como se fosse um gemido de dor seguido de uma forte pancada, que parecia o estalar de um chicote. Contavam que, se ouvisse este barulho no igarapé e, você chama-se: Bate-Bate, venha bater aqui, logo bem perto seria ouvido o estalo, e se insistisse pedindo novamente que viesse bater, você seria atingido por uma grande pancada que poderia até matar uma pessoa. Ninguem que duvidasse destes relatos, pois, no alto Eiru em um igarapé de nome Paxiuba, morava um nordestino brabo [valente] e que um dia ouviu perto de sua casa lá prás bandas do igarapé, o ruido de um Bate-Bate. Contam que, para mostrar valentia, desafiou o estranho ser a vir bater perto dele, e logo se ouviu uma pancada no porto da casa, seus filhos e mulher ficaram com medo e pediram que ele deixasse para lá o tal espiríto, mas ele não era homem de correr de uma briga e foi dentro da casa apanhou sua espingarda nova, colocou um cartucho e sentou na beira da paxiuba e tornou a desafiar. Logo ao seu lado se ouviu um estranho gemido e uma pancada tão forte que o seringueiro caiu morto. Contam este caso jurando por tudo como foi verdade. Dr. Roy Dearmore, um médico americano que prestou serviços de medicina em Eirunepé,[trabalhava para uma ONG chamada ASAS DO SOCORRO] tornou-se um grande amigo e chegou a ir com sua família passar vinte dias em uma casa que eu tinha no seringal Sta. Maria onde tinhamos uma fazenda de gado, e lá, ouvindo este relato com descrição minuciosa, que tinha acontecidoha poucos meses, ele acreditou que o seringueiro possa ter sido vitimado por um ataque fulminante de coração e por conta deste fato, uma morte súbita. O certo é que depois pesquisando nos igarapés [passamos duas semanas] eu descobri que, o que provocava os estalos era a cauda de um tipo de jacaré que só existe nos igarapés. Tem semelhança com o Tinga, e seria uma réplica fiel em menor escala, não fosse duas saliencias que tem sobre os olhos. Ele usa a cauda para bater na água e atordoar pequenos peixes que ficam fáceis de serem capturados. Falei de minha descoberta...em vão. Ninguém acreditou em minha estoria e assim até hoje nas sombras das noites, nos igarapés centrais se pode ouvir um gemido e a pancada do Bate-Bate.
Ecy Monte Conrado
Lendas, mitos, "causos", fazem parte da Cultura de um povo.
Já um relato desse em minhas Crônicas , quando estive no Acre, próximo a Cruzeiro do Sul. No feicbook As Crônicas de Jone Uchôa Carneiroe
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