Lembranças pitorescas do meu tempo de Seringal. O convívio com mais de cento e sescenta famílias de seringueiros no seringal Stª Maria no alto Rio Eiru, me dava a oportunidade de conhecer os mais variados tipo de gente, e esta diversificação trazia consigo um manancial de personalidades bem distintas . Era uma faculdade de Sociologia, quando via certas atitudes, certos pensamentos de pessoas do mesmo nível cultural, mas com suas divergencias naturais a cada ser humano. Tinha um seringueiro [ainda está vivo e reside aqui em Eirunepé, no Bairro de Fátima] que ria por quelquer motivo, ou por nenhum, e sempre estava de bem com a vida. Seu nome: Antonio Padeiro. Antonio, um moreno de estatura média aos padrões de nossa região, era um seringueiro de produção regular, e como nao poderia ser diferente; simpático e muito querido por todos. Quando surgiram os primeiros gravadores vindos para a Zona franca de Manaus , por volta dos anos 66/67, nossa empresa trazia para cá as novidades atraentes que vislumbraram todo o Brasil, haja vista a quantidade de pessoas que chegavam a Manaus para fazer compras. Bom, comprei um gravador que usava uma fita em dois carreteis, e tinha o aspecto de um rádio de pilhas, muito usado nos seringais para trazer notícias e os jogos do campeonato carioca. Subindo o Rio, para mais uma viagem de atendimento aos seringueiros do meu seringal, eu passava pela casa do bom Antonio que se situava mais ao menos no meio da viagem entre a Cidade e a sede do Stª Maria. Como eu sabia que ninguem ainda conhecia um gravador, resolvi aprontar uma "pegadinha" com meu amigo, e resolvi parar par que se fizesse um jantar, e só recomeçariamos a viagem no dia seguinte. A tarde caia, e a noite chegava trazendo o silencio cortado pelos cantos noturnos da selva mas tambem com a conversação entre os tripulantes do barco e as pessoas da casa que sempre queriam notícias da Cidade. As casas de seringal não usam cadeiras e é comum as pessoas se sentarem no assoalho, em rodadas para conversar ou para comer. A meu lado, Antonio era sorrindo o tempo todo e sempre eu o instigava com algo engraçado o que aumentava em muito o volume de suas risadas, a seu lado estav eu com o gravador ligado, e afita rodando. Ele olhava , olhava e depois de uma meia hora enfim não conteve sua curiosidade e já para se fazer de ferino observador, apontou para o gravador e querendo fazer pilheria disse: que diabos de rádio é esse? só faz enrolar uma fita e nunca fala nada? isto foi dito entre um acesso de riso, contagiante por conta de sua cara que mostrava surpressa e desdém. Depois de mais uns quinze minutos de voltar a fita, eu falei para ele e todos da rodada: escutem esta rádio nova que eu vou sintonizar. E, quando a conversa que tinha sido gravada, começou a ser reproduzida,e a identificação das vozes e os assuntos recem falados, foi um misto de surpresa e medo , e só foi contido quando expliquei o que na realidade era o aparelho, e então Antonio disparou em risadas desta vez incontroláveis, e quando ouvia sua voz e as outras tão familiares, rolava pelo assoalho de paxiuba e apontava para, e o gravador chamando-o de "bixim abusado e fuchiqueiro". Por muitos dias eu continuei rindo sozinho cada vez que lembrava desta situação tão inusitada, que se valorizava pelo flagrante expontaneo daquele povo simples e amigo. Se fosse hoje em dia, com certeza sua postagem na Internet seria acessada por milhões de usuários que se divirtiriam muito.
Estamos na época em que os Quelonios estão colocando nas praias seus ovos. A perseguição aos ovos e aos próprios quelonios é criminosa. Receio que em mais dez anos estejam Extintos na Amazônia.
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