Creio que o Poraqué, embora possa ter outros nomes regionais, exista em todas as regiõs do Brasil, ou na maioria delas. Aqui existem tres tipos conhecidos e comuns, mas temos tambem um espécime raro que dificilmente é visto e que talvez nem seja catalogado nos livros de Biologia. O menor deles, de cor cinza escuro, quase preto é o mais temido pelos caboclos da região que contam ser comum verem ele encostar em uma palmeira de Açai, no época das cheias, e dar choques na árvore para derrubar caroços da fruta. Eles acreditam que, dos tipos comuns, este é o mais poderoso, de mais potencia elétrica. Sempre depois das cheias, podemos encontrar dentro da floresta em áreas de varzea, pequenos poços de até tres metros de circunferencia, que ficam com água, e cheios de peixes de um tipo chamado Tamboatá, que tem como cobertura do corpo anéis de casca sobrepostos, e que chega a medir vinte e cinco centimetros. São muito apreciados por todos da região que que acham sua carne um manjar,e quando encontram um poço destes, eles se reunem para despesca-lo, de onde tiram uma grande quantidade de peixes. Mas para conseguir pescar os peixinhos, os pescadores tem que entrar dentro do buraco [meio metro de profundidade] e com as mãos, ou com auxilio de cestos,pesca-los, devem primeiro matar um casal de Poraqués do tipo vermelho [cresce até um metro e meio] que fica junto com os peixes e, que segundo os caboclos é a causa do poço nunca secar enquanto eles forem vivos. Presenciei um grupo de cinco rapazes do seringal que estavam meio embriagados [não tanto] e que descobriram um destes poços e foram retirar os peixes com as mãos. Foi engraçado, pois os incautos tentaram ignorar os Poraqués que deram choques e causaram uma algazarra. Este tipo vermelho tem um primo um pouco menor, cuja maneira melhor de identificar, é que ele tem a barriga mais clara, quase totalmente branca.Estes espécimes são comuns nos lagos, e é sempre acontece de alguém fisga-los em um anzol, o dificil mesmo, é retira-los, de lá. Geralmente são arrastados pela canoa, com a vara de pescar bem estendida, para ele não tocar na mesma, pois se o fizer dará um choque que pode jogar as pessoas na água. Quando encostam o barco em terra, retiram da água o Poraqué com o auxílio de varas secas. Aqui existe tambem um peixe que chamamos Sarapó, e que ví recentemente em um documentário em um Canal de TV, alguém mostrando-o como um peixe elétrico. Achei engraçado, pois era o mesmo peixe que conhecemos como Sarapó, e posso assegurar que, ele não é elétrico,[ a não ser que os daqui, estejam com os fuziveis queimados]. Na verdade eles servem para fazer isca para pegar Pescada nos lagos, com um tipo de pesca chamada Camurim. Mas deixem que eu conte uma aventura que vivi, pois encontrei um dos PORAQUÉS GIGANTES, do qual sempre eu ouvia falar, mas já acreditava que era mais um mito, uma lenda e não existisse. Sempre me contavam que algumas pessoas tinham visto um enorme Poraqué e que ele mederia mais de quatro metros. Eu ouvia e tinha curiosidade de encontrar um para ver e poder acreditar. Cheguei a oferecer um bom dinheiro para quem me trouxesse um exemplar, isto nunca aconteceu, mas, em uma noite de um mes de Agosto quando o rio estava no limite mínimo de águas, eu estava com dois empregados, pescando perto da casa de um seringueiro que havia emprestado uma canoa. estava com uma "Zagaia" aquele tridente, usado em pescarias, e, com o rio raso era possivel visualisar os peixes que ficam bem na beira para dormir, e fugir de seus predadores naturais. Eu usava uma possante lanterna de pilhas, e nesta pequena curva de uma praia, ví um enorme peixe se mover, não reconheci o que era, indiquei com gestos o local para os remadores, e foquei já bem perto. Notei que era um animal de grande tamanho e roliço, eu estava com a zagaia pronta para desferir o golpe, mas parei ao ver o tamanho, e pensei que era uma cobra Sucuri. Fiquei quieto, eu sabia que ela não atacaria se eu não a agredisse, e o animal se locomovia bem devagar em meu rumo. Com a água clara desta época no rio, finalmente reconheci o formato de um PORAQUÉ. Confesso que fiquei aterrorizado. Ao constatar que realmente era um Poraqué Gigante. Fiz sinal para recuarem a canoa, e mandei [falando bem baixo] que colocassem a canoa de lado para que eles tambem pudessem ver o animal, e eles quase morrem de medo quando o viram. Recuaram a canoa as pressas e saímos rumo ao Batelão que estava no porto do seringueiro. Não deu para ter uma idéia do tamanho exato daquele animal, mas posso garantir que tinha mais de tres metros e era bem grosso. Creio que este especime é muito raro e talvez nem seja conhecido oficialmente. A Amazônia é um mundo perdido, cheio de mistérios ainda não desvendados, e o meu medo, é que quando realmente quiserem estuda-la com seriedade, muita coisa se tenha perdido, extinto pelo descasso que se faz deste Tesouro Biológico.
Ecy Monte Conrado
Ajudem a salvar a Amazônia.Ainda está em tempo de conhecer muitas maravilhas da Flora Fauna.