quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Curiosidades do povo do seringal



Curiosidades do povo do seringal

 Ao chegar no seringal, deparei-me com  costumes bem arcaicos e diferentes. Pessoas cheias de crendices e mitos, vindos dos nordestinos no tempo do esbravamento, e dos índios, criando uma cultura própria cheia de temores supertições e esquisitices.  Na época a comunicação era dificílima, e apenas através de rádios de Manaus ou do exterior como a Voz da América, que fazia propaganda dos gringos, se tinha alguma notícia de fora da cidade, tudo era muito lento, em Eirunepé, os aviões que vinham eram semanais e as vezes mais de um mes a cidade ficava totalmente isolada.  Não existiam telefones, a correspondencia vinha em barcos movidos a vapor, ou mesmo com motores a Diesel,pesadões e lentos que gastavam trinta ou mais dias de Manaus a Eirunepé. A cultura do seringal me surpreendia, existiam costumes que eram absurdos, mas seguido a risca pelas pessoas locais. Para ilustrar o que digo, deixe-me contar que se uma pessoa estivesse com febre, jamais poderia comer frutas, mesmo se fosse uma gripe que todos usam as frutas cítricas como fonte de Vit. C,  eles não acreditavam  na eficácia do remédio, pois eles só tinham notícia delas em forma de comprimidos em vidrinhos.  Existia uma espécie de tabu para o azar, que chamavam Panema. Triste da pessoa que estivesse passando esta fase, não poderia matar uma caça [naquela época caçar era sobrevivencia praticada por todos] , o coitado portador da triste sina, nem namorada arranjava e tinha que exorcizar o corpo, com simpatias caseiras, como sair de cas com a camisa pelo avesso ou, adotando um drástico método que era o de se despir e subir pelado em uma árvore chamada Tachi. Nela residem terriveis formigas de tamanho médio, não encontradas em outro local, e que atacam qualquer coisa que se aproxime da árvore residente. Elas investem ferozmente atacando. Suas ferroadas deixam marcas que permanecem por dias, a vítima tem um surto de febre geralmente alta, mas o resultado, é que expulsa a terrivel Panema, pode-se ver que é puro efeito psicológico Muitas outras coisas eu tenho para contar, incluindo o cotidiano das pessoas, sua maneira de agir, sua maneira de pescar, de caçar, de aprontar as estradas de seringa e muito mais.  Quero registrar  esta narrativa buscando apenas, tornar conhecido costumes que apesar de não tão distantes, já esquecido pela maioria das pessoas de nossa terra. Se diz que somos um povo que não zelamos pela nossa história, aceito esta afirmação e sem nenhuma pretensão de ser escritor ou algo mais, quero contar o que vivi neste tempo, que mesmo cheio de desconforto nas viagens, hoje relembro com saudade e boas recordações.

Ecy Monte Conrado

3 comentários:

  1. Ecy, estou escrevendo um material literário-pedagógico e gostaria de utilizar as imagens de sua memória dos seringais. Basta citar a autoria?! Prazer, Abel!

    ResponderExcluir
  2. Caro Abel, antes de tudo minhas sinceras desculpas por não ter respondido logo sua postagem, na realidade, sei pouco ou nada no manuseio de um Computador, mas aqui estou para lhe autorizar a editar as minhas imagens e espero que elas façam jus ao seu desejo. Sei me comunicar através daquela janelinha que tem no Facebook, mas estive olhando e não lhe vi. De qualquer forma, foi um prazer, e só espero é que vc, divulgue este trabalho humilde de seu novo amigo. Um abraço.

    ResponderExcluir
  3. Prezado Ecy,
    Estou escrevendo uma síntese histórica da minha cidade (Anamã). GOSTARIA DE SUA AUTORIZAÇÃO PARA UTILIZAR AS SUAS IMAGENS. A posteridade precisa vivenciar através de sua arte o ambiente de outras décadas.

    ResponderExcluir