Como já falei antes, vivi um tempo da minha vida muito ligado a uma tribo dos Kurinas. Cheguei a residir com eles na aldeia, e tornei-me um membro da tribo embora, guardando comigo uma imensa parte dos meus costumes, mas sempre procurando não impor para eles a minha cultura e sim, querendo apreender o que podia com eles. Lembro bem que na chegada das chuvas, a selva fica fervilhando de vida nas poças d'água que se formam, após cada chuva forte e assim o rio que cresce vai absorvendo, e engolindo a várzea. Existe um tipo de rã, que não é muito grande e que os seringueiros chamam: Sapo de Enxurrada. existem as centenas e como se surgissem em um passe de mágica, após cada chuva se ouve seu canto em todo lugar. Bom, os índios então constroem paneiros [Cestos de cipós trançado com a trança não muito fechada]do grosso e fino alternando, e então em alguma manhã depois de uma noite inteira de chuva Amazônica, daquelas que passa a noite inteira chovendo fino e grosso em uma alternância constante, se reúne quase a tribo inteira, pois na aldeia ficam apenas os anciãos e as crianças bem pequenas, o restante entra na selva e começa a caça a estes animais. É uma festa, logo todos estão coletando rãs e jogando dentro dos paneiros que devem ter uma tampa de palha, mas o difícil é manter as rãs quietas dentro. Depois de horas de atividade ja com uma carga completa nos cestos, que não são tão grandes, a tribo retorna, cantando uma música de alegria. Ao chegar a aldeia uma fogueira ja foi acessa e tem água, em uma grande panela que deve estar fervendo. As dezenas de rãs são então atiradas dentro deste recipiente e cozidas pelo fato da água estar borbulhando ao ferver. Três minutos no máximo e os homens e mulheres derramam a água e logo ao seguir começa o festim da comilança, geralmente acompanhado por pedaços de Macacheira bem cozida. Por vezes vi índios e índias com uma rã ainda contraindo as pernas , dentro da boca sem nenhum escrúpulo. Preciso dizer que nem as vísceras se retiram antes de degustar. Com o calor as tripas se retraem e ficam emboladas em um montinho.
sexta-feira, 15 de novembro de 2013
terça-feira, 12 de novembro de 2013
Novembro começa a época da enchente, nosso inverno.
Nos rios estreitos como o querido Eiru, neste mês de novembro, acontecem os primeiros "ripiquetes" que é como chamamos as primeiras investidas do Rio para crescer seu volume de água. Um outro afluente do grande Jurua, fica um pouco abaixo da foz do Eiru, é o Rio Tarauacá, bem maior que o Eiru e sem dúvidas o rio mais barrento que conheço, sua água nesta época do ano, se transforma em uma lama fina e para beber, as pessoas tem que coletarem água e deixarem decantar por mais de uma hora em um vaso para que a lama fique acomodada no fundo e então ter água relativamente limpa em cima. Viajando subindo o rio, é impressionante, a quantidade de detritos que desce na forte correnteza deste rio. No Rio Eiru, o que predomina a chegada das cheias, é uma espuma bem espessa embora pouca ,que fica nas margens em face da queda de barranco por conta da correnteza. Para quem sangra as Seringueiras, a coleta do corte diário sofre um abalo, pois as chuvas que caem diariamente sempre entram nas tigelinhas que estão enfiadas nas árvores e água faz o latex transbordar. No início da temporada, o Rio avança devagar, mas logo subirá com impetuosidade e as margens nas várzeas se cobrirão de água criando ilhas que sempre ficam repletas de animais e sobretudo Cobras peçonhentas como as Surucucus que se camuflam nas margens e atacam os incautos caçadores que invadem as ilhas.
sábado, 9 de novembro de 2013
Curiosidade bem estranha , para capturar grandes peixes, tipo Jaú. Parte 2
Em uma fase de minha vida, quando trabalhava gerenciando todos os seringais do alto Rio Eiru, resolvi deixar de fumar. Eu era um viciado visceral, compulsivo e, dominado realmente pelo vício. Chegava a consumir uma média de cinco maços por dia. Para se ter ideia eu pesava apenas 58 Klos, e como é próprio de quem fuma, eu também era dono de uma insistente Tosse que, se não atrapalhava demais, era constante. Quando deixei de fumar, me senti perdido e, para não cair no fracasso da atitude, reuni uns amigos meus do seringal, e organizei uma expedição de exploração ao Alto Rio em uma , área que nem a seringa era explorada pela extrema dificuldade de acesso mesmo em pequenas canoas, tal a quantidade de obstáculos que encontrávamos em cursar seu leito. A cada curva, uma árvore que caia, outros velhos troncos que ainda permaneciam fortes, muitos cipós que se entre cruzavam no alto das árvores e se estreitavam caindo em forma de espessas moitas, fechando o Rio que nestas alturas, era apenas um estreito Igarapé. Muitos animais encontramos, macacos Guaribas, Pregos, Pretos, os Acaris dos dois tipos [ um de cada lado do Rio, impressionante como não cruzavam o pequeno espaço que os separava.], além de Antas, porcos Queixada, muitas Pacas, vário tipos de aves, enfim o Paraíso para quem como eu na época era um exímio atirador e gostava muito de caçar. A medida que avançávamos,a água sempre barrenta, se tornava bem mais limpa e dava para ver centenas de Matrinchãs, velozes que pareciam setas douradas , que se dispersavam quando nos viam. Outros peixes passavam também, eram pacus, e uma infinita variedade de pequenas Piabas, além dos grandes peixes de couro que ficavam sempre perto dos poços mais fundos que se formavam , e que escondiam ao perceber nossa presença, centenas de Pacus Mafuras, e os grandes Jaús, esporadicamente, uma cobra Sucuri . Era como se fosse a elaboração desses filmes americanos de selva no qual, os animais de Zoos, são alugados para figurar... uma diferença: ali era a Natureza mesmo,majestosa e selvagem. Após oito dias de caminhada ja andando mesmo pois as canoas ha muito não podiam mais trafegar, resolvemos voltar , pois sentimos que o Rio ainda cursaria muito longe. Depois que passamos por um último afluente de nome Ciparú, só soubemos quem era o Eiru, pela presença das Imbaúbas que no afluente não existiam. Não matamos senão para comer, pois nem era possível transportar a caça até a canoa, que estava muito abaixo, em um Igarapé, de nome Currupião . Na viagem toda as quatro horas da tarde, era necessário parar para fazer um "Tapiri" [nome que se dá , a pequenos abrigos feitos com palha para pernoite ou proteção de uma grande chuva.] mas os nossos eram espaçosos , a expedição contava com duas canoas e oito homens. A fartura de palheiras nas margens do Eiru , facilitava a construção bem acelerada, pois contávamos com pregos, martelo e um bom serrote, além de terçado[Facões].
PARTE 2
Sempre ao deitar, após desfrutar de uma saborosa refeição, [levamos, os temperos para melhorar a comida, Pimenta de reino, Cuminho, Cebola, Manteiga, Extrato de Tomate ] com este verdadeiro luxo para a ocasião, e com uma caça fresquinha, além da fome causada pelas horas de trabalho, sempre as refeições eram verdadeiros banquetes. A cada noite uma grande fogueira era acessa, pra afazer a comida e para afugentar os predadores naturais. Sempre ouvimos as Onças Pintadas, esturrando, dando aqueles urros que emite com a boca voltada para o chão e que chega a estremecer a Floresta e afugenta os animais que em pânico, correm em todas as direções, geralmente caindo algum no seu poder. Apesar de temeroso, é muito bonito ouvir aquele som. Também, o canto dos Jacamins, que em bandos de até cem indivíduos, repousam no alto das árvores, pois os dias passam caçando insetos no solo. Cantam de hora em hora, e se é noite de Lua, fazem um belo concerto. A selva, bem distante dos lugares habitados pelos humanos, é diferente ema tudo. Sons que você nem identifica, luzes, de insetos e também de folhas em decomposição que no solo, parecem uma renda de minúsculas luzes, pois são florescentes, ao caminhar você tem a sensação de estar pisando em estrelas, é lindo, é mágico. Mas como eu ia dizendo, sempre antes de deitar e ficar jogando conversa fora, armávamos linhas possantes com grandes anzóis para pescar os Jaús, peixes imensos e feios, pois a sua cabeça é desproporcional ao corpo, chegando a medir um terço de seu tamanho. São abundantes no Rio, e cada noite pegávamos um. Os meus amigos gostavam de fritar rolas de seu corpo, e comer com farofa de farinha de mandioca. Só era colocado uma única linha, para não capturar mais que o necessário. Bom agora vou narrar a curiosidade que deu razão ao texto: sempre a linha era colocada as oito horas da noite e no máximo as oito e vinte algum peixe ja estava fisgado. Nesta noite não foi diferente, senão pelo tamanho exagerado do monstruoso e esfaimado peixe que nem deixou a linha tocar o leito do rio, logo abocanhou e nadou um pouco. Fui surpreendido pelo fato, mas segurei a linha, e o peixe sentindo resistência, simplesmente deitou , e ficou imóvel. Tentei puxar, mas nada consegui. Chamei um dos participantes da comitiva, e nós dois também não conseguimos. Parecia que o anzol havia ficado preso em algum tronco imerso, não se movia. Logo os outros amigos chegaram e um, que era mais experiente nestas pescarias neste Rio, falou: é um Jaú dos grandes e ele está na linha. A equipe toda de oito homens estava tentando e nada. Foi então que um dos homens falou: eu estou mascando uma "brejeira"...ou seja ele estava com um pedaço de tabaco regional dentro da boca, Pediu-me licença para usa-la para dominar o peixe e, surpreso perguntei brincando: você quer ir até ele e oferecer tabaco? Todos riram mas o Sabiá [apelido do mascador] retirou o melado e viscoso pedaço de tabaco da boca e sem lavar, fechou a mão com o pedaço dentro e começou a friccionar a linha para cima e para baixo. Quase não acreditei quando senti a linha afrouxar e ver o imenso peixe se deslocando para a superfície. Então conseguimos puxar para a margem e com o auxílio de varas improvisadas como lança, matar o imenso animal. Creiam se eu não estivesse ali, não acreditaria. Ja tinha conhecimento que este método era usado mas, supunha que era apenas mais uma historia de caboclo pescador. PURA VERDADE !!!
PARTE 2
Sempre ao deitar, após desfrutar de uma saborosa refeição, [levamos, os temperos para melhorar a comida, Pimenta de reino, Cuminho, Cebola, Manteiga, Extrato de Tomate ] com este verdadeiro luxo para a ocasião, e com uma caça fresquinha, além da fome causada pelas horas de trabalho, sempre as refeições eram verdadeiros banquetes. A cada noite uma grande fogueira era acessa, pra afazer a comida e para afugentar os predadores naturais. Sempre ouvimos as Onças Pintadas, esturrando, dando aqueles urros que emite com a boca voltada para o chão e que chega a estremecer a Floresta e afugenta os animais que em pânico, correm em todas as direções, geralmente caindo algum no seu poder. Apesar de temeroso, é muito bonito ouvir aquele som. Também, o canto dos Jacamins, que em bandos de até cem indivíduos, repousam no alto das árvores, pois os dias passam caçando insetos no solo. Cantam de hora em hora, e se é noite de Lua, fazem um belo concerto. A selva, bem distante dos lugares habitados pelos humanos, é diferente ema tudo. Sons que você nem identifica, luzes, de insetos e também de folhas em decomposição que no solo, parecem uma renda de minúsculas luzes, pois são florescentes, ao caminhar você tem a sensação de estar pisando em estrelas, é lindo, é mágico. Mas como eu ia dizendo, sempre antes de deitar e ficar jogando conversa fora, armávamos linhas possantes com grandes anzóis para pescar os Jaús, peixes imensos e feios, pois a sua cabeça é desproporcional ao corpo, chegando a medir um terço de seu tamanho. São abundantes no Rio, e cada noite pegávamos um. Os meus amigos gostavam de fritar rolas de seu corpo, e comer com farofa de farinha de mandioca. Só era colocado uma única linha, para não capturar mais que o necessário. Bom agora vou narrar a curiosidade que deu razão ao texto: sempre a linha era colocada as oito horas da noite e no máximo as oito e vinte algum peixe ja estava fisgado. Nesta noite não foi diferente, senão pelo tamanho exagerado do monstruoso e esfaimado peixe que nem deixou a linha tocar o leito do rio, logo abocanhou e nadou um pouco. Fui surpreendido pelo fato, mas segurei a linha, e o peixe sentindo resistência, simplesmente deitou , e ficou imóvel. Tentei puxar, mas nada consegui. Chamei um dos participantes da comitiva, e nós dois também não conseguimos. Parecia que o anzol havia ficado preso em algum tronco imerso, não se movia. Logo os outros amigos chegaram e um, que era mais experiente nestas pescarias neste Rio, falou: é um Jaú dos grandes e ele está na linha. A equipe toda de oito homens estava tentando e nada. Foi então que um dos homens falou: eu estou mascando uma "brejeira"...ou seja ele estava com um pedaço de tabaco regional dentro da boca, Pediu-me licença para usa-la para dominar o peixe e, surpreso perguntei brincando: você quer ir até ele e oferecer tabaco? Todos riram mas o Sabiá [apelido do mascador] retirou o melado e viscoso pedaço de tabaco da boca e sem lavar, fechou a mão com o pedaço dentro e começou a friccionar a linha para cima e para baixo. Quase não acreditei quando senti a linha afrouxar e ver o imenso peixe se deslocando para a superfície. Então conseguimos puxar para a margem e com o auxílio de varas improvisadas como lança, matar o imenso animal. Creiam se eu não estivesse ali, não acreditaria. Ja tinha conhecimento que este método era usado mas, supunha que era apenas mais uma historia de caboclo pescador. PURA VERDADE !!!
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